Lisboa é de muitas cores. E as cores contam histórias. Nos últimos anos, alguns dos edifícios da cidade regressaram às suas cores originais, restaurando uma parte importante da sua história, como foi o caso da estação de comboios de Santa Apolónia, o Teatro São Carlos e o Palácio de Queluz.
Ao longo dos anos, houve práticas nefastas que apagaram as cores dos edifícios de Lisboa. Mas a preocupação com o passado e com a integridade dos edifícios tem vindo a marcar terreno, como na estação de comboios de Santa Apolónia.
Os vestígios foram encontrados e as suspeitas confirmadas: uma fotografia de 1967 mostrava que as fachadas de Santa Apolónia eram vermelhas, cor que foi substituída pelo azul em 1990. No ano passado, o vermelho regressou às paredes para a construção de um hotel.
Santa Apolónia não foi a única.
Em 2019, arrancou o processo de restauro do Teatro São Carlos, amarelo desde 1940, época do regime ditatorial do Estado Novo. Nesse processo, descobriram-se quadrículas azuis debaixo da cor amarela. Havia, aliás, testemunhos da presença desse azul, como se pode ver numa gravura do século XIX, de autor desconhecido, que o pintava de azul-esverdeado.
Hoje, o teatro é novamente azul, tal como quando foi inaugurado em 1793, segundo ordens de D. Maria I. As suas laterais permanecem amarelas – se assim eram no passado, não há certezas.
Também o azul voltou à fachada do Palácio de Queluz, construído em 1747. A 5 de outubro de 1934, um incêndio destruiu parcialmente o Palácio e a cor escolhida pelo arquiteto Raul Lino para o restauro foi o cor-de-rosa.
Porém, no final do século XX, ao encontrarem-se vestígios do azul e a descrição de um viajante, que escrevia estar perante um palácio “pardacento”, tal como um desenho a aguarela, de autor desconhecido, o Palácio voltou ao seu azul original.
E assim como Santa Polónia e o Teatro São Carlos, além de recuperar sua cor, recuperou também uma parte importante de sua história.
Por Ana da Cunha